Ela decidiu
denunciar o estupro, e foi fácil encontrar
os suspeitos na pequena comunidade. (Foto:
BBC)
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Para escapar de
estigma, vítima de ataque manteve silêncio até que gravação em celular começou
a ser distribuída online.
Quando uma
jovem foi vítima de estupro coletivo em uma aldeia remota no Paquistão, decidiu
manter o silêncio para poupar a família do estigma que sofreria. Até que um
vídeo do estupro começou a circular na internet e em celulares.
Após o ataque,
dois vídeos do estupro começaram a circular online: um de 5 minutos de duração,
e o outro, de 40 segundos.
O vídeo
mostrava ela sendo violentada por quatro homens, enquanto ela implorava para
que parassem. Rapidamente o vídeo se espalhou pelas aldeias de Punjab (leste do
Paquistão).
"Meu irmão
mais velho foi a primeira pessoa que me falou do vídeo. Ele reconheceu a irmã e
veio falar comigo", disse à BBC o pai da menina. "Ela ficou com
vergonha (de nos contar). Se a mãe dela estivesse viva, tenho certeza que teria
contado para ela."
Ela decidiu,
então, denunciar o estupro, e foi fácil encontrar os suspeitos na pequena
comunidade.
O vídeo ainda
pode ser compartilhado por redes sociais, já que não há leis no Paquistão que
proíbam isso de acontecer (no Brasil, o Marco Civil da Internet prevê a
retirada de conteúdo online em casos de racismo, pedofilia ou violência).
'Me bateram ainda mais'
Sadia mora em
um um típico vilarejo paquistanês, com casas de argila cercada por campos de
cana-de-açúcar e pequenas hortas.
Ela tem 23
anos, mas parece muito mais nova. Desde a morte da sua mãe, tem criado seus
irmãos mais novos.
Sadia fala de
uma forma nervosa, contorcendo suas mãos, chorando e se recompondo.
Ela conta que
estava a caminho do mercado para comprar o uniforme escolar de sua irmã quando
foi puxada para dentro de um carro e ameaçada com uma arma. Ela diz que os
quatro homens dentro do carro levaram-na a uma casa e a estupraram, enquanto
filmavam tudo com um celular.
"Quando eu
implorei para que parassem, me bateram ainda mais", conta. "Eles
disseram que, se eu não fizesse o que queriam, mostrariam o vídeo para todo o
mundo, colocariam na internet, machucariam meus irmãos e irmã. Não estava
preocupada comigo, mas não queria prejudicar o futuro dos meus irmãos. Por isso
não contei para ninguém."
Ela sabe que o
vídeo foi amplamente visto.
"Muita
gente assistiu por diversão, acha que é algo interessante."
Mudanças
tecnológicas
Os quatro
acusados do crime estão presos, à espera do julgamento. Foram indiciados por
estupro, sequestro e por distribuição de pornografia (este último, punido com
três meses de prisão).
O vídeo
continua online, mas a polícia diz que está tentando removê-lo. No que diz
respeito à acusação de estupro coletivo, as provas são contundentes por causa
das imagens.
Mas o caso de
Sadia indica também como o sistema jurídico paquistanês tem sido incapaz de
acompanhar as rápidas mudanças sociais e tecnológicas.
Advogados
especializados em crime cibernético dizem que não há leis específicas que
forcem sites a remover o vídeo, e a falta de vontade política significa que
isso está longe de acontecer.
Uma nova lei,
que ainda aguarda aval do Parlamento, prevê penas de até três anos para quem
distribuir material de conteúdo sexual explícito (envolva ou não violência) e
outros três para violação de privacidade.
O
vice-diretor-geral da agência governamental que combate crimes cibernéticos,
Shehzad Haider, diz receber mensalmente 12 a 15 casos envolvendo vídeos
privados de natureza sexual, e o número deve crescer.
Enquanto isso,
porém, Sadia é forçada a ficar em casa, por vergonha. Ela trabalhava como
professora primária e cursava o ensino superior.
"Alguns
dos meus professores universitários me visitaram e me estimularam a concluir os
estudos", diz ela. "Eles dizem que devo deixar isso (o ocorrido) para
trás, mas eu não consigo. Não até que os homens sejam condenados."
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