Em depoimento,
sargento voltou a dizer que reagiu a ataque. Um menor morreu; sobreviventes
contestam versão de PMs.
Um dos nove
policiais militares envolvidos na operação que deixou um jovem morto e outro
baleado na comunidade da Palmeirinha, em Honório Gurgel, Subúrbio do Rio,
admitiu nesta segunda-feira (2) que atirou contra o grupo. Alan Souza de Lima
morreu e um amigo dele, Chauan Jambres, ficou ferido. Um terceiro menor saiu
sem ferimentos.
Os policiais
foram ouvidos na 30ª DP (Marechal Hermes). O sargento Ricardo Wagner Gomes foi
o único que assumiu ter dado o tiro. O policial manteve a versão dada
inicialmente, de que apenas reagiu a um ataque.
Ricardo, Alan
de Lima Monteiro e Carlos Eduardos Domingues Alves estavam em um carro da PM no
momento da ação na Palmeirinha, no dia 21 de fevereiro. Alan e Carlos Eduardo
negam ter atirado contra o grupo. Eles dizem que apenas ouviram os tiros.
Foram
utilizados na operação um carro blindado e duas equipes táticas que se
dividiram, totalizando nove policiais. O fuzil de Ricardo foi apreendido,
juntamente com uma pistola e um revólver. O dia da reconstituição do caso ainda
será definido pela delegacia.
O pai de Alan
de Souza Lima deverá prestar depoimento na delegacia nesta terça-feira (3), às
13h.
Vídeo
Uma gravação
feita no celular de Alan, instantes antes de sua morte, mostra os três amigos
conversando e brincando quando começaram os tiros. A Polícia Militar afirmou,
inicialmente, que o grupo foi atingido em confronto e que os três seriam
suspeitos. Os sobreviventes negaram a versão desde o início e as imagens do
vídeo mudaram os rumos da investigação.
Segundo
Adilson, pai de Chauan, as imagens feitas pelo colega do filho que foi morto
revoltaram, mas também deram alívio para a família.
“Eu senti muita
raiva quando vi aquilo. Mas também foi bom, pois tudo que eles [policiais]
fazem está certo e a população está sempre errada. Meu filho sempre me deu
orgulho, é um jovem trabalhador”, afirmou o pai de Chauan, ressaltando que o
jovem trabalha como ambulante na praia para poder comprar terno para ir aos
cultos da igreja e pagar a passagem para os treinos de futebol.
Agonia dos feridos
O vídeo
registra um momento de diversão entre três amigos. Dois deles estavam de
bicicleta. Um minuto e quinze segundos depois do início da gravação, os jovens
correram. Logo, tiros são ouvidos. “Corri atrás dele só pra pegar o celular,
pra ele parar de gravar”, explicou Chauan.
O celular
estava nas mãos de Alan, que caiu no chão, mas continuou gravando. O vídeo
permite ouvir a agonia dos feridos e as vozes de dois homens, que seriam
policiais militares. Um deles pergunta aos garotos por que eles correram. “A
gente tava brincando, senhor”, responde um deles.
Ao fundo,
pessoas da comunidade dizem aos policiais conhecer os meninos: "É morador.
É morador".
Segundo
testemunhas, os policiais tentaram justificar o fato de os rapazes terem sido
baleados, afirmando que eles entraram no meio da troca de tiros entre os PMs e
criminosos.
Em nota
divulgada no sábado (21), a Polícia Civil informou que os jovens ficaram
feridos durante um confronto com PMs e que na ação foram apreendidos um
revólver e uma pistola. Ainda segundo a nota, Chauan foi autuado em flagrante
por porte de arma e resistência.
Na madrugada de
sábado, o caso provocou um protesto violento na Avenida Brasil. Um ônibus e um
caminhão foram queimados. A via expressa ficou interditada por quase quatro
horas.
Chauan mora na
Baixada Fluminense, mas decidiu passar o fim de semana na casa do patrão, na
Favela da Palmeirinha, para economizar dinheiro de passagem. Ele vende mate na
Praia de Ipanema. “Justiça. Só isso. Que prove a minha inocência. Eu não sou
bandido”, afirmou o rapaz.
Assim que tomou
conhecimento do vídeo, o comando da PM determinou o afastamento dos policiais
envolvidos na ocorrência e também a abertura imediata de um inquérito policial
militar.
A Polícia
Civil, que investiga o caso, já recebeu uma cópia do vídeo. De acordo com a
delegada Adriana Belém, titular da 30ª DP (Marechal Hermes), foi instaurado
inquérito para apurar a morte de Alan de Souza Lima, 15 anos, e a lesão
corporal de Chauan. Segundo a assessoria, antes da divulgação das imagens a
polícia já tinha pedido a revogação da prisão de Chauan devido a
inconsistências nos depoimentos. A realização de uma reconstituição está sendo
analisada pela delegada e o jovem baleado está sendo aguardado para prestar
esclarecimentos.
Saiba mais: http://riodasostrasjornal.blogspot.com.br/2015/02/apos-video-de-jovem-morto-por-pm.html
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