Boris Nemtsov
foi morto a tiros na sexta (28) em Moscou.
Quem matou o
opositor Boris Nemtsov, assassinado sexta-feira (2) a tiros a dois passos do
Kremlin? Os serviços secretos ocidentais ou Kiev, asseguram a imprensa e
aliados do Kremlin, enquanto os anti-Putin veem a morte como resultado de uma
campanha de ódio lançada pelas autoridades.
"Não há
dúvida de que o assassinato de Nemtsov foi organizado pelos serviços de
inteligência ocidentais para provocar um conflito interno na Rússia",
declarou o líder da Chechênia, Ramzan Kadyrov, cujas declarações foram
amplamente reproduzidas pela imprensa pró-Kremlin.
"É a maneira
como eles fazem: primeiro pegam alguém sob sua asa, e o chama de 'amigo dos
Estados Unidos e da Europa' e depois o sacrificam para acusar as autoridades
locais. A condenação à morte (de Nemtsov) ordenada em uma capital ocidental
pode muito bem ter sido executada pelo serviço secreto ucraniano", de
acordo com Kadyrov.
O presidente
russo Vladimir Putin deu o tom ao falar de "provocação", logo após o
anúncio da morte de Nemtsov, crítico radical do Kremlin que denunciava a
corrupção do poder e o envolvimento da Rússia na guerra na Ucrânia.
O canal de
notícias Rossia 24, que contribui muito, assim como os outros canais de
televisão, todos pró-Kremlin, na formação da opinião pública apresentou muitas
personalidades para comentar sobre o assassinato de Boris Nemtsov.
A mão dos
serviços
"Esta é
uma operação na qual podemos ver a mão dos serviços secretos ocidentais",
declarou Gennady Seleznev, um ex-gerente comunista e ex-presidente da Duma
(câmara baixa do Parlamento).
Por sua vez, o
analista político Alexei Martynov ressaltou que "os americanos reagiram
com uma rapidez suspeita (ao assassinato de Nemtsov). O texto já estava
claramente pronto".
"Tudo isso
é parte da guerra de informação travada pelos Estados Unidos e a Europa contra
Putin e a Rússia", acrescentou o ex-chefe do FSB (serviço secreto russo) e
membro do partido governista Rússia Unida, Nikolai Kovalev.
Após seguidas
intervenções de pessoas falando a mesma língua, uma jornalista retornou à pista
ucraniana com alusões misteriosas: "E depois, há sua vida privada, esta
mulher ucraniana com quem ele se relacionava, o fato de ele viajar muitas vezes
a Kiev... Por quê? Tudo isso não está claro".
Para o primeiro
vice-presidente da Duma, Ivan Melnikov, trata-se de um complô orquestrado pelos
inimigos da Rússia: "Se você olhar para o momento escolhido, tem o ar de
uma provocação sangrenta organizada com os mesmos objetivos de quando o Boeing
(da Malásia) foi abatido em 17 de julho de 2014 no leste Ucrânia. Com que
objetivo? Semear a desordem no país e desencadear a histeria anti-russa no
exterior."
O ex-embaixador
americano em Moscou, Michael McFaul, declarou em seu Twitter receber
"centenas ou milhares de tuítes dizendo que foram os Estados Unidos que
mataram Nemtsov. É, manifestadamente, uma campanha paga".
Quinta coluna
O canal de
televisão NTV deveria exibir no domingo um novo episódio de uma série dedicada
a denunciar opositores, incluindo Boris Nemtsov, em um estilo que lembra muito
a propaganda soviética anti-ocidental dos anos da Guerra Fria.
Após o
assassinato de Nemtsov, a NTV cancelou o programa. O site da NTV prometeu
várias revelações: "Como se prepara o Maidan russo? Por que os nossos
adversários visitam a Suíça? O que ensinam seus instrutores em Kiev? Por que
encontram diplomatas estrangeiros em condições máximas de conspiração ?".
"O ódio
derramado diariamente pelos canais de televisão oficiais acabariam por se
transformar em sangue", observou a jornalista opositora Xenia Sobchak,
próxima de Nemtsov.
Os opositores
do Kremlin são regularmente acusados pela imprensa oficial de
"traidores", "agentes estrangeiros", "inimigos
internos" ou "membros da quinta coluna".
Uma semana
antes do assassinato de Nemtsov, uma manifestação pró-Putin e
"anti-Maidan" reuniu dezenas de milhares de pessoas em Moscou:
"Livrar-se da quinta coluna", pedia um cartaz carregado por
manifestantes.
"O
assassinato de Nemtsov pesa na consciência do poder, que liberou os instintos
do pogrom mais obscuros", escreveu no Twitter o famoso advogado russo
Genrikh Reznik.
Nas redes
sociais, muitos são fãs das teorias da conspiração, segundo as quais Nemtsov
foi morto no dia em que são celebradas as Forças de Operações Especiais, uma
festa criada na véspera do assassinato por um decreto do presidente Putin.
Outros recordam
que a jornalista da oposição Anna Politkovskaya foi assassinada em 2006 em 7 de
outubro, o dia do aniversário de Vladimir Putin.
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